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sábado, 7 de agosto de 2010
Bombeiros com aspas
O filme, cujo mote principal é retratar uma sociedade totalitária, no qual, "bombeiros", ferramenta repressora do Estado que têm obrigação de queimar livros e punir pessoas que lêem ou tiveram contato com livros, traz uma série de questionamentos e conceitos atuais, mesmo sendo produzido na década de 60.
Basicamente, o filme FAHRENHEIT 451 mostra um Estado totalitário que apresenta "bombeiros" que têm a função de queimar qualquer tipo de material impresso, pois fora convencionado que a literatura é propagadora da infelicidade. Mas a personagem Montag (Oskar Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca a permanecer viva naquele contexto.
Após a análise dessa produção cinematográfica, o sentimento que fica é de angústia, afinal se mostra uma sociedade legitimada por líderes totalitários, que querem manter a paz social e para tal, "cuidam" da "educação", queimando livros. O fato é a maneira de naturalidade que os "bombeiros" do Estado queimam um dos bens que a sociedade contempla há anos, como forma de conhecimento, entretenimento e informação: os livros. Dessa maneira, alguns conceitos são compartilhados com teóricos e autores da Escola de Frankfurt, como é o caso da Esfera Pública proposta por Jurgen Habermas. Assim como a reflexão do autor (o espaço público perde poder devido a individualização promovida pelos Meios), no filme, à medida que as pessoas deixam de ter contato com os livros e recursos acadêmicos, elas perdem a capacidade de reflexão e o grupo social adquire um posicionamento de conformismo, passividade e inércia, como é o caso da população representada no filme.
Além disso, quando o diretor do longa propõe essa sociedade subserviente, ele a ilustra como essa sociedade de consumo, da ideologia do capital, que impõe o pensamento único, o individualismo, a "ordem", como é o caso dos países em que os Aparelhos Ideológicos de Estado fazem seu trabalho de reprodutor da ordem vigente, como ocorre no filme. Diante disso, o conceito proposto por Louis Althusser fica mais evidente nas cenas em que os "bombeiros" ateam fogo nos livros, perseguem, prendem e executam pessoas encontradas juntas aos livros. Esse trabalho repressor e coercitivo dos "bombeiros" demonstra que pertence aos Aparelhos Repressores do Estado, bem como as leis daquele suposto Estado.
Outro fator que é demonstrado implicitamente pelo diretor do filme, são os recursos bélicos e tecnológicos que os "bombeiros" possuem para legitimar sua ação coercitiva. Este cenário nos leva a crer que, além do Estado absoluto, existe uma burguesia que patrocina estes órgãos repressores, mantendo controle hegemônico (Antônio Gramsci) sobre uma sociedade através da coerção política e cultural.
Vale ressaltar que essa produção cinematográfica surge num contexto (década de 60) de intensas manifestações políticas e teorias críticas. Desse modo, o diretor do FAHRENHEIT 451, bem como os teóricos citados ao longo deste post, acreditam na força libertadora do conhecimento, da informação (livre!!!), uma vez que os livros propiciam o pensar por si mesmo, como ação questionadora.
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