Pesquise
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Anacrônica vaidade
Imagine uma mulher belíssima, uma prostituta afamada, uma cortesão rica, uma amante na meia idade apaixonada pelo jovem filho de sua amiga.
É basicamente isso que trata a obra do diretor Stephen Frears. Frears parece gostar de tratar mulheres que estão à frente do seu tempo com destinos trágicos, como é o caso de sua direção no 'Sra. Henderson Apresenta', os anos 1990 de 'Elizabeth II' em 'A Rainha', e agora uma cortesã nos últimos anos da Belle Époque, em 'Chéri'.
Michelle Pfeiffer interpreta a protagonista Lea de Lonval, uma das prostitutas mais ricas do começo do século 20 que se apaixona pelo filho de sua amiga (também prostituta) ao levá-lo para um passeio que acaba em um romance de seis anos.
Mais do que um romance entre a meretriz de meia idade e o jovem rapaz de 19 anos, o filme traz a intensa briga entre a busca pela vaidade e os encontros do tempo no corpo humano. Lea foi umas cortesãs mais belas de sua época, porém nunca havia firmado romance nenhum, apenas aventuras amorosas dignas de principados e da nobreza. Mas, embora experiente, Lea já não tem o mesmo vigor ou a mesma disposição dos primeiros anos de sua afamada profissão. A partir daí, podemos perceber que a pompa, a riqueza e a noite das cenas passam a ser uma coisa asquerosa.
O mais marcante é o final. Nós ,interlocutores, por alguma razão, somos orientados a acreditar que Lea ficará com seu jovem amante, pois ele tenta insistir na relação. Porém, com uma discussão determinante entre os protagonistas, acontece o inesperável: Lea, a mais desejada das mulheres da época, acaba sozinha. Sozinha e com uma anacrônica conclusão: uma mulher à frente do seu tempo e temerosa pelas próximas marcas de sua vida, as marcas de expressão, em que se percebe no plano final, ao espelho, um close-up doloroso no rosto de Michelle Pfeiffer - que presume-se ter passado por algumas plásticas, não muitas, mas o suficiente para inchar seus lábios e desnivelar seus olhos. É uma discussão da atualidade com o velho sonho trágico da juventude eterna.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário