Pesquise

terça-feira, 29 de junho de 2010

Uma revista, uma capa, várias análises



A capa da revista “Piauí”, edição de fevereiro de 2008 é toda composta por uma imagem do quadro de Frederico de Montefeltro pintado em 1465 por Piero della Francesca. Essa obra do pintor renascentista é um retrato que se fazia na época para recordação e distinção social dos nobres, na qual se nota o duque retratado de perfil diante de uma paisagem usando uma túnica tradicionalmente vermelha, a cor da nobreza.

Além disso, nota-se que a “chamada de capa” mais apela para o humor, com aspecto descontraído do que para o conteúdo da revista, como ocorre tradicionalmente com a publicação, uma vez que os títulos dos artigos e o nome de seus autores não estão em destaque. Além disso, nessa capa, a cor destes está neutra (branco e preto), a fim de que oriente o olhar do leitor para a imagem.

Quanto à análise dos recursos verbais, nota-se que os sinais tipotográficos do título são em caixa baixa com o número da edição, o que permite fazer uma leitura de que a revista se posiciona de maneira despretensiosa.

À medida que se faz uma leitura da imagem do duque Frederico, nota-se uma particularidade: o quadro não está original, apesar da tentativa, devido à textura. No caso do retrato, o duque está com um piercing na narina esquerda e sua túnica demonstra uma etiqueta da marca “Calvin klein” com os seguinte dizeres “Made in China”. É a partir daí que se nota o conteúdo implícito e o artigo que será narrado no conteúdo da revista: a falsificação de obras de arte.

Para esse propósito, a capa apresenta o retrato de um duque que pertencia à nobreza e investia em mecenato cultural quando aos 22 anos assumiu o governo de Urbino que, durante o seu reinado (1444 – 1482) passou a ser um centro econômico e cultural do Renascimento. Sobre a implementação do piercing, seria uma tentaiva do produtor da capa em chocar, uma vez que sabemos que ele não faz parte da obra original, se contrasta com o aspecto antigo da imagem e pode ser ilustrado como símbolo da impossibilidade de manutenção da originalidade de uma obra de arte ao ser falsificada. Além disso, quando se coloca uma etiqueta da famosa marca “Calvin Klein” em exibição na túnica, o produtor gráfico sugere uma crítica aos compradores de obras falsificadas, que quando as adquirem, eles (normalmente a nova nobreza) apenas usam a obra (mesmo que falsificada) como distinção social e não fator de contemplação. Além disso, fica claro que se trata de produção e falsificação de imagens quando se nota os dizeres “made in china” na etiqueta da túnica, país conhecido pela grande produção de artigos falsificados e exportados para o mundo a preços ínfimos, ou seja, a obra ao ser cópia voltada para o comércio ilegal e não para a reprodução em meios acadêmicos, perde seu valor comercial e valor de contemplação (“aurea”), como já diziam teóricos da Escola de Frankfurt.

Nenhum comentário:

Postar um comentário