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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cinema Brasileiro - Parte III

Continuando...

A instabilidade do início da década de 40 favoreceu, porém, o florescimento da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S/A. Apesar da pouca literatura sobre Atlântida, se sabe que ela fora composta por um grupo de entusiastas, entre os quais estão Arnaldo de Farias, Alinor Azevedo, os irmãos José Carlos e Paulo Burle e Moacir Fenelon, que tinham um certo grau de consciência social do momento em que viviam e se reuniram para criar com a empresa um local permanente para a prática do grupo. Eles não só faziam filmes, mas ainda tentam criar uma experiência cinematográfica brasileira ou pelo menos carioca, e ao mesmo tempo abordar problemas sociais até então ausentes da temática nacional.

Além disso, a empresa recorre à chanchada para ganhar mais público, introduzindo o gênero no bastião dos “filmes-sérios”. E é nesse contexto, mais precisamente entre 1941 a 1947, que a empresa consolidou-se como a maior produtora do Brasil. Ao contrário da Cinédia e da Brasil Vita Filmes, empresas mergulhadas em temáticas emperradoras, a Atlântida desenvolvia seguidos empreendimentos derivados de linhas de produção complementares, quais sejam, a chanchada e as fitas “socializantes”, formando as primeiras platéias cativas do cinema nacional.

Os números comprovam que Atlântida tivera relevância no cenário do nosso cinema, uma vez que nos seus 21 anos de atividade, a empresa produziu 66 filmes (sem contar com “Assim era a Atlântida”, de 74) num ritmo contínuo e com boa resposta de bilheteria. Dessa maneira, podemos concluir que a produtora brasileira fora conduzida por homens altruístas, politizados de esquerda, cuja ambição não era apenas os cine-jornais, mas sim a chegada do longa-metragem. Porém, foi em 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra assina o decreto 20.943, que amplia a reserva de mercado para os filmes brasileiros. Segundo o decreto os cinemas são obrigados a exibir anualmente, no mínimo, três filmes nacionais por ano. Assim, Severiano (novo integrante da empresa) entra na produção de filmes visando produzir seus próprios filmes para cobrir a reserva e auferir o maior lucro possível. Para isso, a Atlântida não fez uso da isenção de impostos para a importação de equipamentos e material cinematográfico, conseguidos pelo Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica em 1949; manteve as precárias condições técnicas dos estúdios; a produção era artesanal, para se ter uma idéias das condições, os filmes eram revelados no próprio estúdio e enrolados à mão, enfim, a Companhia permaneceu trabalhando com reduzidas equipes técnicas, mantendo a improvisação como “regra” de produção. Dentro dessa política de redução de custos e produção voltada para o mercado, a Atlântida produziu nos anos Severiano Ribeiro (47-62), 51 filmes, uma média de 3,4 filmes por ano, justamente o número suficiente para o cumprimento da reserva de mercado estabelecida em 1946. Diante deste quadro, bem distante do manifesto elaborado pelos seus fundadores, Moacyr Fenelon abandona a Atlântida e produz, de forma independente, oito filmes fora da Companhia entre os anos 1948 e 1950. Fenelon teria que esperar até 1952 para inaugurar o seu próprio estúdio – Flama Filmes – com um filme de sucesso talhado para o carnaval: Tudo Azul, que foi recentemente restaurado pelo o Centro de Pesquisa do Cinema Brasileiro.
No final da década de 50 o país passa por um momento de mudanças, a política dos “50 anos em 5” de Juscelino Kubitscheck abriu o país para o capital e a cultura estrangeira acelerando o desenvolvimento industrial; o neo-realismo italiano influencia o cinema brasileiro que começa a se voltar para temas que abordam a denúncia social, o que seria uma prévia do Cinema Novo; os Congressos de Cinema de 52 e 53 despertam uma consciência maior a respeito dos problemas que assolam o cinema brasileiro e a necessidade de um cinema industrial com o apoio do Estado. No entanto, a Atlântida permanece repetindo as mesmas fórmulas sem mostrar capacidade de renovação e com o esgotamento do filão das chanchadas e do filme musical a Companhia paralisa as suas atividades em 1962.

A respeito da quinta fase do cinema nacional, entre os anos de 1950-1966, há um destaque para a cidade de São Paulo, afinal, após o fim da Segunda Guerra Mundial e da ditadura do Estado Novo, em 1945, a capital vive um momento de efervescência cultural. Revistas de divulgação artística, conferências, seminários e exposições agitam a vida paulista, bem como a inauguração do Museu de Arte Moderna e o MASP - Museu de Arte de São Paulo. Na mesma época, Franco Zampari, empresário de origem italiana, monta uma companhia teatral de alto nível, o TBC - Teatro Brasileiro de Comédia e cresce o interesse pelo cinema, como o fato de intelectuais fundarem cineclubes e movimentarem grupos de debates.
Nesse contexto, surge um projeto estético-cultural mais amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural, conduzida pela burguesia industrial, buscando uma hegemonia na vida política e cultural do país: a fundação da Vera Cruz. A produção da Vera Cruz, movimento que renega a Chanchada, é um empreendimento de grandes proporções que pretende unificar estúdios, cujo foco é produzir filmes industrialmente, aos moldes dos hollywoodianos, lançando estrelas de cinema, tais como Tânia Carreiro.

É preciso salientar que o progresso que Vera Cruz traz para o cinema nacional fora única e exclusivamente técnico, pois a indústria movimentava vultosos valores monetários e importava profissionais estrangeiros, sobretudo os norte-americanos e possibilitava a formação de cineastas nacionais. Porém, apesar de toda essa ambição, a empresa sucumbiu-se, devido aos altos valores das produções, bem como a ausência de um sistema eficiente de distribuição de seus filmes, a dificuldade de colocar o filme brasileiro no competitivo mercado internacional e pela concorrência desigual com os filmes estrangeiros no país.

Continua...

2 comentários:

  1. Thélio, jóinha?
    Muito bacana o seu blog. Andei lendo algumas matérias e continuarei acompanhando.
    Aproveitando o assunto cinema, tenho um filme a sugerir, embora não seja brasileiro. Chama-se Sr. Ninguém, ano 2009, Jaco Van Dormael (um dos melhores diretores e roteiristas dos últimos tempos!). É, sem sombra de dúvida, o melhor filme que já vi. Fica a dica.
    Qualquer hora discutiremos sobre ele!
    Beijo da amiga do coração.
    Ana

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  2. Anaaaa!!!Td certo sim e com vv?
    Clarooo..valeu pela dica. Vou alugar logo!
    Passei por cambuquira no feriado e me lembrei de vc!
    Bjos do seu amigo que tem saudades...
    Thélio

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