Marina não faz diferença no 2° Turno - Uma questão numérica e ideológica

Outubro de 2010. 2° Turno das eleições no Brasil. Temos um cenário incrível. Quem Marina, a nova cara da política no país, desejada por jovens e a “onda verde” como norte, irá apoiar? Os quatro maiores colégios eleitorais (estados) já foram decididos em 1° turno e temos 2 PSDB (MG e SP) e 1 PT (BA) e 1 PMDB, vice de Dilma, (RJ).

Para clarear as coisas, devemos relembrar que Marina ficou 7 anos em um dos Ministérios do governo Lula. E mesmo quando o presidente trocou a grande maioria das lideranças nos ministérios entre 2006 e 2007, no novo mandato, Marina Silva estava lá, firme e forte como uma mangueira no Ministério Verde. Depois de tanto crédito com o PT, ela saiu do partido para caminhar seus passos rumo à candidatura às eleições 2010 sob proposta do PV.

Agora, a terceira colocada do ranking vai dar apoio a quem? Por uma questão ideológica, teoricamente, ela deveria apoiar Dilma, afinal, durante a década de 90, com o FHC e seu PSDB, os acordos com as multinacionais não previam nenhum respeito ao verde.

Já estão dizendo por aí que o PV vai apoiar o Serra. É bem provável mesmo, afinal o partido ainda não se decidiu, pois em alguns estados é de centro-direita e em outros de centro-esquerda. Já Marina, deve ficar quietinha e não apoiar ninguém para que seja uma oposição coerente e se torne realmente uma alternativa viável para os próximos anos, como Lula fez na década de 90 e foi eleito duas vezes consecutivas posteriormente.

Por isso, diante desse cenário, bem como a lembrança política que devemos ter, mesmo com orientação de professores, afirmo: a escolha da Marina não faz diferença no 2° Turno. Por quê? Vamos aos dados, com uma nova conta que ainda não foi veiculada pela velha mídia coronelista.
Caso ainda não tenham visto, seguem os reais valores / porcentagens disponibilizados pelo site do Tribunal Superior Eleitoral e reparem a somatória de abstenções.

Dilma (PT) 47.651.434 votos;
José Serra (PSDB) 33.132.283 votos;
Marina Silva (PV) 19.636.359 votos;
Nulos 6.124.254;
Abstenções 24.610.296;
Brancos 3.479.340.

Ou seja, para ficar claro, quando somados Nulos, Abstenções e Brancos, temos um total de 34.213.863. Assim, esse vultuoso expoente perdeu apenas para a Dilma, com 47.651.434 votos.

Vamos considerar que a Marina apoie José Serra no 2º Turno: vitória fácil do PSDB, correto? Não!
Vamos recordar o que houve com a eleição entre Maluf e Covas para o governo do estado de São Paulo em 1998. Na época, aconteceu um episódio curioso. Tínhamos o ex-prefeito da capital Paulo Maluf (PPB), Mario Covas (PSDB) tentando a reeleição, o ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi (PDT), o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e a deputada federal em primeiro mandato Marta Suplicy (PT). Neste cenário, a campanha se desenrolara com uma incerteza e duas seguranças. As seguranças: haveria segundo turno e Maluf detinha cacife o suficiente para disputá-lo graças ao nicho do eleitorado que mantivera por décadas. A incerteza: quem seria o oponente de Maluf no segundo turno.

Na antevéspera da eleição, numa sexta-feira, 2 de outubro, o Instituto Datafolha divulgou o seguinte resultado duma pesquisa sobre intenção de voto: Maluf,31%; Rossi,18%; Covas,17%; Marta,15% e Quércia, 6%.

Com o andamento das apurações, o resultado final ficou mais ou menos assim: No 1º Turno, Maluf, 5.351.035 (32,12%); Covas, 3.813.186 (22,95%); Marta, 3.738.750 (22,5%); Rossi, 2.843.515 (17,11%) e Quércia 714.097 (4,1%) e uma média de 6.000.000 de abstenções. No 2° Turno, houve uma coerência divina e o resultado ficou: o dragão corrupto Maluf com 42%, Covas com 58% e uma média de 2.000.000 de abstenções. O coeficiente de abstenções caiu, Covas cresceu.

Ou seja, a leitura é que o 2° Turno é quase um plebiscito. São duas opções apenas. Ou Serra, ou Dilma. Ou PSDB, ou PT. É muito fácil votar no 2° Turno. Assim, mesmo que a Marina dê apoio a Serra, o eleitorado de Dilma, preconceituosamente chamado de “Nordeste” por alguns, estará presente no 2° Turno. A média de número de abstenções / nulos / brancos no 2° Turno é muito pequena. Assim, com uma votação mais simplificada, com poucas opções, menor número de abstenções, mesmo com a Marina apoiando Serra, Dilma estará na frente. Como diz o velho humorista, “aguarde e confie”, Dilma será presidente do Brasil, graças à coerência política que temos por aí, de um povo tristemente tachado como “nordestino” que se alimenta de “pão e circo”. Uma pena ver esse discurso limitado ainda por aí...

E você, no dia 31 de Outubro, vai votar em quem? Vejam, são apenas duas opções. Duas opções parecidas: ambos são economistas, foram exilados, são workholics e têm pouco carisma. Ainda sim é fácil, vamos lá: Dilma ou Serra; PT ou PSDB; Brasil referência no cenário internacional ou Brasil aberto aos desejos ocultos dos países do Norte. Por favor, com um mínimo exercício de reflexão é possível comparar 8 anos de FHC com 8 anos de Lula. Aliás, aqui no estado de São Paulo, com 16 anos de PSDB, dizem que a saúde é referência com o Hospital Regional. Minha professora de língua portuguesa até hoje vive um dilema para conseguir uma consulta para sua mãe no hospital público de Taubaté. Enquanto isso, José Serra quer voltar com os multirões da saúde...

OK. Caso ainda não fui convincente, vamos ver qual dos dois presidenciáveis vai realmente debater nossas velhas discussões, como a Reforma Política, Agrária, Fiscal e da Previdência.